março 29, 2011

Afectividade e Relação Pedagógica

A discussão sobre o papel da afectividade na educação vem de tão longe como a própria discussão das relações entre pensamento e sentimento, razão e emoção, mente e coração. Segundo Dewey (2004 [1916]), os grandes problemas da educação provinham da ausência de uma ideia de continuidade entre a razão e o corpo, a pessoa e a sociedade, a pessoa e a natureza; e Montessori (1969) considera que o grande problema da educação tradicional está no fosso que ela manteve entre a criança e o adulto, este pretendendo a todo o custo sujeitar aquela.

Em geral, todo o pensamento pedagógico reformador do Século XX, independentemente das diferenças conceptuais e processuais de cada corrente, propunha a ligação e a interdependência funcional entre as capacidades intelectuais, emocionais, sociais e manuais, em nome do desenvolvimento integral e da autonomia da criança.

A investigação vem mostrando que é pela afectividade que o indivíduo tem acesso aos sistemas simbólico‑culturais “originando a actividade cognitiva e possibilitando o seu avanço, pois são os desejos, intenções e motivos que vão mobilizar a criança na selecção de actividades e objectos” (Leite & Tagliaferro, 2005, p. 50).

Processos cognitivos e afectivos interrelacionam‑se e influenciam‑se mutuamente.
 Essa linha de investigação está fortemente apoiada nos trabalhos de Wallon (1968) e de Vygotsky (1998). Uma das ideias centrais do pensamento de Vygotsky, contida no conceito de zona de desenvolvimento proximal, é a de que relações concretas entre pessoas estão associadas ao desenvolvimento das funções superiores, tornando‑se assim fundamentais as atitudes de ajuda e apoio exercidas pelo professor.

Também as recentes investigações no campo das neurociências vêm demonstrando que sentimentos e consciência não são estranhos e separados; sentimentos e emoções têm um forte impacto na mente, podendo dizer‑se que constituem as raízes da consciência (Damásio, 2000). Estudos deste domínio sugerem, ainda, que “o cérebro humano precisa de um certo desafio para activar emoções e aprendizagem”, e que “um ambiente físico seguro é particularmente importante na redução de níveis exagerados de stress”, nocivos ao bem‑estar e à aprendizagem (Muijs & Reynolds, 2005, p. 25).
Parece, pois, haver uma forte relação entre as aprendizagens dos alunos e: · a qualidade das relações educador‑criança, nomeadamente a segurança e o conforto emocional, em fases precoces da escolaridade (Pianta et al., 1995, p. 296); · o apoio social (tradução de social support¹) que obtêm por parte dos educadores (Hughes et al., 1997); · o ethos de escola onde se cultive a proximidade nas relações humanas, em articulação com a autoridade dos adultos (Freire, 2001).

Estas conclusões vieram reforçar a ideia já defendida pelos pedagogos da Escola Nova, de um indispensável investimento nas condições do ensino, incluindo condições afectivas favoráveis, para que se verifique a aprendizagem de conteúdos a par de uma educação integral do aluno, contemplando conhecimentos, emoções, valores e atitudes. Essas aprendizagens tornam‑se facilitadas “quando o indivíduo trabalha com prazer e quando os seus esforços são coroados de êxito. Isto significa que o êxito escolar depende tanto dos aspectos intelectuais como dos afectivos” (Neves & Carvalho, 2006, p. 202).

Dito de outro modo, se as aprendizagens escolares dependem de um conjunto de exigências de ordem técnica, assentes num “saber fazer” que o avanço nos conhecimentos e novas tecnologias garante e exige, não podem deixar de assentar, por outro lado, num conjunto de características afectivas identificáveis que faça com que os conteúdos toquem a pessoa do aluno e activem “os mecanismos cognitivos para trabalhar a informação e para que a aprendizagem significativa se efectue”

(Gonçalves & Alarcão, 2004, p. 6). (...) João Amado , Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra ; Isabel Freire , Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa , Elsa Carvalho , Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos do Cadaval , Maria João André , Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos de Pataias

(retirado de)

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