fevereiro 08, 2010

Conto sobre a Metamorfose da lagarta em Borboleta

Ontem ao ver que as Magnólias principiaram já o seu florir; lembrei-me de um conto que escrevi em que uma velha Magnolia grandiflora presencia nos seus ramos a metamorfose das lagartinhas.
O fenómeno natural da Metamorfose é uma oportunidade fantástica (quase mágica) para descobrir o mundo natural. Escrevi este pequeno conto como base para uma actividade integrada onde se exploram e conjugam vários Domínios. Essa actividade teve inspiração num cd que faz parte de uma colecção fantástica intitulada "Enciclopédia da Música com bicho".

Nota:Devido à dimensão elevada da preparação teórica da actividade não vou partilhá-la aqui mas se alguém estiver interessado contacte-me)

 Conto: A Magnólia e as Lagartinhas

Há já alguns meses que aqueles estranhos ovos estavam escondidos por entre as folhas da velha Magnolia grandiflora. - Que haveria no seu interior? – Interrogava-se a grande árvore que já tinha guardado sobre as suas folhas verdes e lustrosas muitos outros animais.

Na noite anterior tinha ouvido qualquer coisa a revolver-se dentro dos ovos, num movimento suave que era cada vez mais constante. E, na manhã seguinte, algo de extraordinário aconteceu: a Magnólia ouviu estalar um a um os invólucros dos ovos. Lá de dentro saíram minúsculas lagartinhas verdes que apressadamente começaram a mastigar as suas folhas.

A velha Magnólia habituada a estas desconsiderações assentiu porque folhas tinha ela muitas; o que a preocupava verdadeiramente eram as suas flores que a cada Primavera eram cada vez menos.

As lagartitas foram crescendo, mastigando dia e noite as saborosas folhas lustrosas nos velhos ramos da Magnólia.

Assim se foram passando os dias; se fazia Sol e calor era debaixo das folhas que as lagartas se escondiam, e, quando no céu se ouviam trovões e a chuva ameaçava cair, era também sobe as folhas que as lagartas se abrigavam.

Até que um dia, já perto do Outono, a Magnólia reparou que as lagartinhas começaram a manifestar um comportamento estranho; em vez do ruído provocado pelo constante mastigar das folhas, aconteciam agora muitos momentos de silêncio nos seus ramos e, às vezes, até ouvia as lagartitas suspirar: - Que se passará com as estas lagartinhas? – Interrogava-se a velha Magnólia.

Por estas alturas as lagartas estavam já muito grandes e gordinhas. Rastejavam devagar e inesperadamente começaram a tecer um fio muito suave, claro, que brilhava à luz dourada do Sol de Outono. Como as lagartinhas eram de poucas conversas, a Magnólia limitou-se a observar o seu curioso comportamento. Além disso, dizia-se na floresta que as lagartas eram seres muito especiais pelo que não deviam ser incomodadas.

Com o passar dos dias as lagartinhas, uma a uma, encerraram-se dentro de um casulo que ficava escondido nos galhos da árvore. A Magnólia pensou: - Certamente estão a preparar-se para resistir ao frio do Inverno que aí vem…

O silêncio que reinava agora nos ramos da Magnólia era total. As suas folhas já tinham caído todas e o vento frio soprava pelos campos em redor da árvore. Toda a floresta parecia entrar num sono profundo.

Até que um dia o Sol ficou mais quente e os passarinhos começaram a chilrear. A Magnólia despertou do sono, agitou suavemente os seus ramos e, surpreendida, exclamou: - Que flores maravilhosas desabrocharam nos meus ramos! Reparou também que algo se agitava no interior dos casulos e começou a ouvir um estranho mastigar: - Será que são as lagartinhas a tentar sair do casulo para vir celebrar a Primavera? - Mas não, não eram as lagartinhas; algo de mais extraordinário aconteceu: saiu de dentro de cada casulo um ser de asas coloridas e de cara preta, frágil, de estranha beleza que, diga-se a verdade, não tinha quaisquer semelhanças com as lagartinhas verdes, gordas, feias e fartas que tinham tecido os casulos.

A Magnólia sabia muito bem que aqueles seres frágeis e leves eram as Borboletas. Lembrou-se que há muito, muito tempo, quando era ainda uma pequena e frágil plantinha, um desses seres enigmáticos tinha pousado nas suas primeiras folhas e lhe segredara:

- Magnólia, magnólia…
Árvore de flores grandiosas e folhas majestosas tu hás-de ser;
Porque também eu feia lagarta era
E em bela borboleta me transformei.

A Magnólia não acreditou em nenhuma dessas palavras, pensou que fora delírio daquele volúvel ser mas agora tinha assistido, com os seus próprios ramos, folhas e flores, a essa transformação.

A Magnólia observou, então, aqueles belos seres a estender as asas ao sol, a agitá-las depois suavemente e a mergulharem num voo perfeito sobre as suas flores. Assistiu, então, ao bailado colorido que aqueles seres faziam sobre as suas flores: ora agitavam alegremente a asa direita, ora a esquerda, ora pulavam agilmente de flor em flor, ora rodopiavam leves na brisa. Pareciam namoriscar entre si.

Até que, talvez por rodopiar tanto, algumas borboletas deitaram-se nas flores. Baixaram-se e um a um, começaram a por pequenos ovos:

- Mas são ovos iguais aqueles de onde saíram as lagartinhas! – Exclamou, admirada a velha magnólia.
As borboletas levantaram voo muito devagar, pareciam cansadas.
A magnólia ainda gritou a uma borboleta:

- Borboleta, borboleta,
D`asas às cores e cara preta,
Tu já foste uma lagarta
Verde, gorda, feia e farta *

Mas as borboletas já não lhe responderam e caíram lentamente no chão.

Até que, num dia luminoso de Verão, os pequenos ovos estalaram e apareceu uma pequena lagartinha. A magnólia disse-lhe baixinho:

- Lagartinha, lagartinha
De corpo mole e cara gordinha
Tu hás-de ser uma borboleta,
Bela, leve, frágil e leda!

-De ovo a lagartinha; de lagartinha a borboleta… que história fantástica aconteceu nos meus ramos! - Exclamava feliz a Magnólia para quem, apesar da sua longa idade, este fora sem dúvida o ano mais mágico da sua vida.

*Quadra retirada do cd intitulado “ Borboleta”, tomo II da Enciclopédia da Música com bicho

 

Vídeo: A amiginha do Pocoyo

A minha Bebé adora este vídeo do Pocoyo e a mim parece-me que este vídeo poderá ser um meio interessante para explorar a temática da Metamorfose com as crianças mais pequeninas:

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