" Cresci brincando no chão entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Por que se a gente fala a partir da experiência de criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e obliqua das coisas. "
Manoel de Barros, Memórias inventadas
O brincar constitui-se como a principal forma da criança ser e estar no mundo.
Por meio do brincar, as crianças se relacionam com o outro e atribuem sentido aos espaços
em que vivem. (...)
Nesse sentido, ao entender as crianças como sujeitos ativos, interativos, competentes,
produtores de saberes e não como acessório ou apêndice na sociedade dos adultos, busco
reconhecer “a capacidade de produção simbólica por parte das crianças e a construção de
suas representação e crenças em sistemas organizados, isto é em culturas. (PINTO,
SARMENTO, 1997, p.20).
Valorizar a capacidade de produção simbólica das crianças requer evidenciar a sua
competência para construir sentidos no/sobre o mundo. Não a reconhecendo mais como um
“vir a ser”, mas como sujeito, alguém que tem desejos, expectativas,alguém que precisa ser
valorado. É preciso reconhecer suas formas específicas de ocupar e se apropriar dos
espaços,“entendendo a brincadeira como fundamental, tanto para a criança conhecer o mundo
quanto reconhecer-se no mundo.”(BARBOSA, 2004).
“Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e obligua das
coisas..” Retomo a metáfora de Manoel de Barros na epígrafe deste texto. As raízes
crianceiras do poeta parecem traduzir a busca de “dar a palavra à infância’ ou “vozes às
crianças”. Deixar as certezas, verdades absolutas de lado e construir estudos que falem das
crianças, com crianças e não somente sobre elas.
Para mim, esta memória nos faz o convite de
entrar na brincadeira, retomar nossas próprias raízes crianceiras e buscar conhecer um pouco mais a respeito das crianças e dos seus espaços de viver a infância.
(texto integral disponível em http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/359/296)